22/09/2005

Os 5 pecados da trilogia "O Senhor dos Anéis"

Sou fã da saga O Senhor dos Anéis, ou, como preferem os mais fanáticos, The Lord of the Rings. Vendo e revendo o filme diversas vezes, descobri alguns pecados nessa obra-prima dirigida por Peter Jackson. Antes de tudo, preciso dizer que só comentarei a parte I e II da trilogia. O motivo é simples. Dia 14 de dezembro de 2005, a New Line Cinema irá lançar a parte III, O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei, edição especial. O DVD trará mais de 50 minutos de cenas inéditas, totalizando cerca de 4 horas e 10 minutos de filme. Então, só comentarei depois de vê a versão definitiva.

É incrível, mas ainda hoje existem pessoas que nunca viram a saga dos anéis. Para esses, reproduzo aqui uma contextualização da história do filme, contada logo no início da Sociedade do Anel.

"O mundo mudou, posso senti-lo na água, posso senti-lo na terra, posso senti-lo no ar, muito do que havia está perdido, pois nenhum dos que se lembra, está vivo. Tudo começou com a forjadura dos grandes anéis. Três foram dados aos Elfos, imortais e os mais sábios e justos de todos os seres. Sete, aos senhores dos Anões, grandes mineradores e artesãos dos saguões das montanhas. E nove, nove anéis foram dados à raça dos Homens, que acima de tudo desejavam o poder. Pois esses anéis continham a força e a vontade para governar cada raça. Mas todos eles foram enganados. Pois outro Anel foi feito. Na terra de Mordor, no fogo da Montanha da Perdição. O senhor do escuro, Sauron, forjou em segredo um Anel mestre, para controlar todos os outros. E neste Anel ele colocou toda sua crueldade, sua maldade e sua vontade de dominar todas as formas de vida. Um Anel para dominar a todos.

Uma a uma as terras livres da Terra Média foram dominadas pelo poder do Anel. Mas alguns resistiram. Uma última aliança entre Homens e Elfos marchou contra os exércitos de Mordor e nas encostas da Montanha da Perdição lutaram pela liberdade da Terra Média. A vitória estava próxima. Mas o poder do Anel não podia ser desfeito. E foi neste momento, quando a esperança havia acabado, que Isildor, filho do Rei, tomou a espada de seu pai. Sauron, o inimigo dos povos livres da Terra Média, fora derrotado.

O Anel, passou para Isildur, que teve a chance única de destruir o mal para sempre. Mas o coração dos homens é facilmente corrompido. E o Anel de poder tem vontade própria. E traiu Isildor, provocando sua morte. E algumas coisas que não deviam ser esquecidas, se perderam. A história se tornou lenda, a lenda se tornou mito e durante 2.500 anos o Anel ficou totalmente esquecido. Até que surgiu a oportunidade e seduziu um novo portador. O Anel foi para as mãos de Gollum, que o levou para as profundezas dos túneis das montanhas sombrias. E lá ele o consumiu. O Anel deu a Gollum uma vida anormalmente longa, durante 500 anos envenenou sua mente. E na escuridão da caverna de Gollum ele esperou. A escuridão voltou para floresta do mundo. Os rumores cresceram a respeito de uma sombra no leste, sussurros de um medo iluminável e o Anel de poder percebeu que sua hora havia chegado. E abandou Gollum. Mas aconteceu algo que o Anel não pretendia, ele foi pego pela mais improvável das criaturas, um Hobbit, Bilbo Bolseiro do Condado, e logo chegará o tempo em que os Hobbits governarão destino de todos".

Foi muita ousadia minha querer traduzir O Senhor dos Anéis em três parágrafos, então, compre livro e veja os filmes, okay?! Vamos logo aos 5 pecados capitais encontrados no filme.

O primeiro deles: A trilogia O Senhor dos Anéis é perfeita tecnicamente. O filme foi locado na Nova Zelândia, um lugar espetacular por suas belezas naturais. E só lembrar da cena em que Pippin acende o Farol de Amoldin enquanto as Minas Tirith eram atacadas pelo exército de Sauron. O expectador se transforma em um verdadeiro Nazgûl, sobrevoando o exótico terreno da Oceania. Destaque especial também para o figurino, simplesmente extraordinário. Não é fácil retratar a diversidade de monstrengos como Orcs, Uruk-Hai e Goblins. O grande diferencial é que todos são mostrados bem de perto, sem truques de iluminação. Então o primeiro pecado é: depois do filme, ninguém agüenta mais filmes com cenários meia-boca.

O segundo pecado capital do filme: a diversidade cultural do universo de J.R.R. Tolkien. Quem gosta de "Star Wars" sabe que cultura é o caminho para o sucesso. Mas O Senhor dos Anéis é campeão, pois ao contrário de "Star Wars", o filme explora detalhadamente cada uma das culturas. Cada mudança do universo cultural é acompanhada de novas cores, novos sons, nova trilha sonora, novos diálogos, novos conflitos, novos ritmos e novos desafios aos personagens. No início da trilogia somos apresentados à comunidade dos Hobbits. Uma cultura pacífica, quase que esquecida do resto da Terra Média. O mago Gandalf os define bem: "hobbits são criaturas maravilhosas, pode-se saber tudo o que há para saber sobre eles em um mês, mesmo assim depois de cem anos, eles ainda nos surpreendem". Temos ainda a cultura dos Humanos, dos Elfos, Magos, Anões, Ents e por aí vai. Pecado: mostrar-nos as possibilidades que a diversidade cultural proporciona.

Terceiro grande pecado: as batalhas. O diretor Peter Jackson é absoluto nesse pecado. Antes da produção de O Senhor dos Anéis, as batalhas eram mostradas de longe, como se fossemos terceira pessoa. Em O Senhor dos Anéis, o expectador entra na batalha, literalmente. A estratégia de posicionamento das câmeras mostrado no making-off do filme, mostra que Jackson revolucionou ao colocar câmeras corrediças dentro das batalhas. O resultado é assustadoramente realista. Junte com isso os efeitos de computação que nos colocam sobre grandes catapultas, no controle de Oliphants, voando com Águias gigantes, galopando com o cavalo Scadufax, e teremos um filme totalmente interativo. E o que é melhor, sem torná-lo artificial. Então o pecado é: os filmes épicos terão que reaprender a reproduzir batalhas.

Quarto pecado capital: O Senhor dos Anéis não é um sanduíche. Explico. A maioria dos filmes tem uma grande cena no começo e outra no final, os resto é embromação. Com O Senhor dos Anéis é diferente. O expectador muitas vezes perde a respiração, fica sem ar, não consegue respirar. O filme não tem intervalo. Todas as cenas são de tirar o fôlego. Não existe início e nem fim, a cada momento o filme recomeça. Cada cena parece ser a última. Então o pecado é: ninguém agüenta mais vê filme com apenas duas cenas. Estamos cansados de sanduíche.

Quinto e último grande pecado capital: o filme une o entretenimento a um primoroso enredo e um magistral roteiro. O Senhor dos Anéis mostrou que é possível fazer um filme de ação com qualidades que vão além do simples divertimento. O filme deixa muito mais do que uma simples mensagem, o filme deixa uma filosofia de vida. O homem é fraco. Os sábios não conhecem tudo. A ambição pelo poder corrompe todos os homens. Criaturas diferentes podem viver pacificamente. Numa guerra todos perdem. No limite todos fraquejam. A amizade é tudo que um homem precisa. O mal nunca morre. Existe uma força oculta que nos leva ao sacrifício da busca por respostas. E o principal... não se foge do destino.

Os 5 pecados capitais do filme nos colocam em uma situação difícil. É o chamado "referencial comparativo". Na administração chamamos isso de benchmark, o modelo a ser copiado. Todos os filmes pós O Senhor dos Anéis terão que viver o eterno sofrimento de serem comparados com ele. Para os fãs só resta esperar que Peter Jackson dirija o filme "O Hobbit" com essa mesma maestria que realizou O Senhor dos Anéis. "O Hobbit" é o livro de J.R.R. Tolkien que mostra as aventuras de Bilbo Bolseiro e Gandalf. O conto deu origem à trilogia. Desde já, o mais esperado filme da década. Mas isso fica para 2010. Até lá...

Confira o trailer clicando no botão play da imagem abaixo.

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