26/05/2009

Parque Nacional Serra da Capivara | O berço do homem americano

Flickr@danielcbranco Realizei um sonho antigo. Desde que vi o arqueólogo Indiana Jones pela primeira vez no cinema, descobri o que queria ser. A vida acabou me levando pra outro lado, mas a paixão pela história permanece. Um dos meus locais favoritos é o Parque Nacional de Sete Cidades. Já visitei aquele mar de pedras umas 20 vezes.

Mas sempre escutei que Sete Cidades é só um aperitivo perto do Parque Nacional Serra da Capivara. Pelas incontáveis reportagens e documentários que já assisti, dava para perceber que era verdade. E não só por ser patrimônio da humanidade, conhecer a Serra da Capivara é quase uma obrigação para o piauiense.

Comecei a visita pelo Museu do Homem Americano. Infelizmente ele estava em reforma. Tudo está sendo arrumado para o Global Rock Art 2009. Não, não é um festival de música. Falo do congresso de arte rupestre que vai acontecer na Serra da Capivara entre 29 de junho a 3 de julho. Sobrou pouca coisa para ser visto. Uns esqueletos em rituais fúnebres, umas pedrinhas pontudas, ossos da mega-fauna e nada mais.

Depois segui para o Parque, que fica mais ou menos 30 km de São Raimundo Nonato. A Serra da Capivara é um oásis de sítios arqueológicos. As pinturas e gravuras rupestres comprovam a presença do homem há mais de 100 mil anos. São 912 sítios, sendo mais de 600 abertos à visitação. Não dá para conhecer tudo num só dia. Tive que optar pelos sete mais conhecidos.

Muito bacana analisar os desenhos rabiscados há tanto tempo. Cenas que poderiam facilmente virar um filme. Uma pena que muito já se tenha perdido pela ação da natureza e pela mão dos vândalos. Fora o aspecto cultural, a Serra da Capivara também é fantástica pela beleza natural. Segui a trilha para o topo. É uma estradinha íngreme, foi preciso escapar das unhas-de-gato, paus quebrados e tocos.

Quando mais você sobe, mais dá vontade de descer. Parece que não tem fim. São quase 130 metros de altura. Mata fechada. E ainda existem trilhas paralelas para confundir os distraídos. Parei quatro vezes para tomar fôlego. Quando finalmente cheguei à garganta da Serra, olhei pra cima e notei uma escadinha de ferro, tipo essas que existem em torres elétricas. Comecei a subir lentamente.

As pernas tremiam. Parte pelo cansaço da escalada de 20 minutos. Parte pelo medo. Não é fácil olhar para o lado e perceber um gavião planando tão perto. Alguns minutos depois alcancei o topo. Sentei. Tive um princípio de taquicardia. Eu daria tudo por um pouco d’água. Achei conveniente deixar a garrafinha me esperando pelo caminho, mas me arrependi.

Contemplei por alguns minutos a beleza do parque por inteiro. De cima o lugar é ainda mais lindo. Uma ilha de pedras cercada de verde por todos os lados. Muito impressionante mesmo. Olhei em volta e percebi que ainda não tinha alcançado o topo. Caminhei em cima da serra. É muito perigoso. São pedras redondas, grandes e cheias de cascalho. Fui subindo atrás de uma trilha. Meu medo era dá de cara com uma onça. Nesse caso, ou enfrentava o bicho ou me jogava do penhasco. Em ambas eu saia perdendo.

Até que cheguei no lugar que queria: o ponto mais alto da Serra da Capivara. Aos meus pés só o abismo. O sujeito caminhar olhando pra cima corre o risco de despencar. O piso é cheio de irregularidade. Bastou eu me afobar um pouco e acabei caindo. Despenquei ladeira abaixo. Por sorte me agarrei nuns galhos espinhentos e só cortei a mão.

Foi a deixa que eu precisava para descer. Na volta a escadinha de ferro fincada na parede é ainda mais perigosa. Sem coragem para olhar pra baixo, percebi que o ferro já estava bem enferrujado, meus pés lisos na sandália e o vento soprando com força. Demorei o dobro para descer. Embaixo uma constatação: respeite a placa que proíbe cardíacos/sedentários de subir, leve água e use tênis. Desrespeitar qualquer dessas regras vai gerar arrependimento.

Foi uma visita legal. Quero voltar, dessa vez vou fazer todo o percurso de bike e acampar na própria Serra. E se não bastasse a aventura, ainda levei o maior susto. Explorando as cavernas geradas pelo encontro dos grandes paredões, entrei num corredor bem estreito. Foi quando escutei um rosnado surgindo de dentro da caverna.

Fiquei tranquilo. Mas aí a doida da guia gritou que era uma onça e saiu correndo. Entrei em desespero. Olhei para a brecha da caverna e o povo entalado, se arrastando pela brecha. Senti o próprio bafo da onça no meu pescoço. Assim que consegui sair apareceu a "onça". O bicho na verdade era um caititu, espécie de "porco-do-mato". Eu até filmei, pena que tenha ficado tremido.
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