Hoje no final da tarde aconteceu algo estranho. Um mendigo me pediu dinheiro. Eu sei que isso não é tão estranho assim, mas nesse caso foi diferente. Eu tenho uma política de não dá esmola. Acho que esses caras usam o dinheiro pra tomar cachaça. É um julgamento relativamente simples de fazer. Sempre funciona para deixar a consciência em paz.
Mas por algum motivo desconhecido puxei do bolso os R$20 que eu tinha. Esmola entregue, vou embora. No que me viro, escuto um grito! Um grito no meio da rua é sempre sinal de perigo. Ninguém anda gritando se não tiver um bom motivo. Então nesse caso é melhor refazer a frase. Não foi bem um grito. Na verdade o maluco do mendigo começou a cantar!
Eu não entendi no começo, mas dava pra perceber que era uma imitação esforçada de Louis Armstrong. As pessoas foram parando para olhar. Em poucos minutos já havia se formado uma roda de uns 15-20 curiosos. Não sei como é na cidade em que você mora, mas aqui esses amontoados só acontecem em duas situações: alguém morreu ou alguém está morrendo.
Não havia nenhum moribundo naquele instante. Pelo menos não em escala fisiológica. Os incrédulos apenas escutavam boa música ao vivo. Uma senhora até batia palmas na intenção de contagiar os outros. O mendigo era bom. Esse cara devia ser um profissional. Pela idade e postura, talvez até tenha sido. Difícil dizer.
Ele encerrou a apresentação olhando para os R$20 e guardando no bolso da calça. Desde pequeno eu sempre achei que mendigo não tivesse bolso. Calça velha não dá para confiar. A multidão se dissipou rapidamente. Ele então se aproximou de mim e agradeceu. Disse que aquele dinheiro iria salvar seu dia. Esboçou um sorriso e foi embora.
É recompensador você imaginar de R$20 faz diferença na vida de alguém. Dinheiro só tem realmente importância quando é usado para ajudar outras pessoas a ter uma vida melhor. Naquele anoitecer aprendi sobre o combate a injustiças sociais, a força transformadora de talentos individuais e a beleza da cooperação em um grupo de pessoas.
Isso até virar a esquina e ver o mendigo sentado em um bar, tomando cachaça com os amigos.
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