05/07/2006

Conseqüências da derrota brasileira na Copa da Alemanha

Matéria do jornal O Globo (ed. 26.629 - 04/07/06) comenta a manutenção das propagandas com os jogadores brasileiros, mesmo após a eliminação. "Ronaldinho Gaúcho sorridente navegando no site de banco. Torcedores eufóricos vestindo a camisa do Brasil e enaltecendo celulares ou cartões de outra instituição financeira. Ronaldinho Gaúcho (ele de novo) deixando seu celular tocar 'Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor...' — no meio de um restaurante francês e de um show de tango. Maradona sonhando que veste o uniforme brasileiro e acordando do 'pesadelo'. Se o torcedor não estava em estado de choque demais para notar, tudo isso foi ao ar na noite de sábado, entremeado às mesas redondas e telejornais que discutiam a derrota do Brasil para a França. Não foi apenas para a seleção brasileira que faltou um plano B nesta Copa do Mundo. Para a maioria das agências de publicidade, também."

No Jornal Nacional os gaúchos destruindo a estátua do Ronaldinho e logo depois no comercial ele aparece todo sorridente fazendo seus marabalismos. Mas nem todos os estrategistas de Marketing foram mal. A Brahma por exemplo não tardou para colocar o Zeca Pagodinho fazendo embaixadinhas e dizendo que mesmo com a derrota ainda somos craques. Tem também aquela propaganda da Skol sacaniando os argentinos, "se o cara que inventou a Skol tivesse inventado o carrinho, ele não seria assim...", lembrou? Depois que os hermanos começaram a dá show de bola, a agência trocou pelo filme com o torcedor europeu peladão. Bastou a Argentina ser eliminada e os europeus crescerem no mundial, que voltou a propaganda da Argentina. Veja abaixo algumas opiniões de especialistas em comunicação sobre o assunto.

"Talvez ninguém tenha esperado a derrota. O ideal é suspender os anúncios ou saber responder ao resultado negativo. Se a empresa continua insistindo, o efeito pode ser negativo", disse o diretor da Faculdade de Comunicação da ESPM no Rio, Carlos Alberto Messeder.

"Embora esses jogadores não estejam muito preocupados com isso, já que estão num patamar muito alto dentro da publicidade, vão perder dinheiro, ou melhor, vão deixar de ganhar com contratos que poderiam ser fechados em caso de vitória da seleção", disse o presidente da Associação Brasileira de Propaganda (ABP), Adilson Xavier.

A matéria fala ainda do caso mais emblemático, a megacampanha do Santander Banespa, que investiu algo em torno em US$ 100 milhões para reunir seis dos 11 titulares do time escalado pelo técnico Parreira. "Na mídia desde o fim de janeiro, anúncios mostravam os dois Ronaldos (o Fenômeno e o Gaúcho), Robinho, Kaká, Roberto Carlos e Cafu divulgando os serviços da instituição. O banco não comentou o assunto, mas a ordem para a retirada do material — criado pela agência McCann Erikson — já foi dada e começou a ser cumprida."

Outra reportagem avalia a repercussão da derrota do Brasil para quem apostou na venda de camisas e bandeiras. Como não poderia deixar de ser, as camisas do time canarinho estão encalhadas. "Temos pelo menos 300 mil camisetas encalhadas no comércio do Rio. Se custarem dez reais, por exemplo, é um prejuízo de R$ 3 milhões", disse Daniel Plá, presidente do Conselho de Varejo da Associação Comercial do Rio de Janeiro.

Quem também está amargando prejuízo com a eliminação é o próprio Parreira. O coitado havia lançado o livro "Formando Equipes Vencedoras" (2006) pouco antes da Copa. Na época estava custando R$19,90. Depois da derrota entrou em liquidação e hoje você encontra por apenas R$13,80. De candidato a bestseller a tema preferido dos gozadores de plantão. E olha que o Parreira estava ficando bem prestigiado no mundo empresarial. A última edição da revista HSM Management (ed.59 - mai/jun 2006) trouxe até uma entrevista com o técnico. Ironia do destino, a última pergunta casa bem com o momento de Parreira na seleção.

HSM: Nós vamos ser hexacampeões este ano? Aliás, esse clima de “já ganhou” também funciona como uma forma de pressão? Repetindo o paralelo, isso também é comum nas empresas...
Parreira: Eu me policio o tempo todo para lembrar que isso não vale nada. Um jogo mal jogado e tchau. Eu sempre recordo a história do Brasil na Copa de 50, que perdeu para o Uruguai na última partida. Um jogador uruguaio deu o seguinte depoimento: "Se nós jogássemos 20 vezes com o Brasil, perderíamos 19; ganhamos a única que podíamos ter ganhado". Então, aí está o que pode acontecer conosco nesta Copa. É preciso ter consciência da fraqueza para ter força.


Um comentário:

  1. A derrota da seleção brasileira para o time da França derrubou o ânimo da torcida, mas tem um gosto muito mais amargo no mundo dos negócios. O campeonato que pára o País de quatro em quatro anos é uma das maiores apostas da publicidade. Este ano, o investimento foi de R$ 1 bilhão só no primeiro semestre, com previsão de dobrar o valor, no caso de vitória. Muitas peças publicitárias preparadas para as próximas etapas jamais serão vistas pelo público, o que deverá afetar principalmente as emissoras de TV a cabo, que faturaram como nunca durante a Copa.

    Jogadores e comissão técnica também saem no prejuízo. Além de perder valor em publicidade e luvas, ficam sem o prêmio da vitória. Se a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) pagasse a cada um o valor prometido aos alemães, R$ 400 mil por pessoa, eles deixam de trazer a taça e R$ 13,2 bilhões.

    O Instituto Fecomércio-RJ calcula que o faturamento no Rio seria de R$ 165 milhões até o fim do mês passado, com avanço de 23%. Se o Brasil jogasse as sete partidas do Mundial, o lucro se estenderia por bem mais que uma semana. O prejuízo estimado nos bares e restaurantes é de R$ 2 milhões, segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-RJ).

    O movimento no comércio é comparado ao do Natal. O diretor da Fecomércio, Natan Schipper, não informou o prejuízo, mas admitiu que há muita mercadoria estocada. “Os setores de papelaria, vestuário e artigos esportivos são os que mais investiram”, destacou.

    Nacib Hototian, 72 anos, dono da loja de plásticos Plast Rei, disse que antes da Copa grande parte da mercadoria já havia acabado. “Fizemos nova encomenda. A venda depende do desempenho da Seleção, sim. Agora, vai ficar complicado. Vamos ter que esperar 7 de setembro e guardar mercadoria para vender na Copa que vem”, planeja Hototian.

    Pelo menos 72% dos estabelecimentos compraram ou alugaram telões e 20% distribuíram brindes durante as partidas. Rodrigo Aquim, presidente da Abrasel-RJ, afirma que as casas investem em decoração, roupas para os funcionários e telões: “O telão é o grande gasto, alugado durante todo o Mundial. O aumento nos jogos do Brasil é de 20%”.

    Leonardo Braga, 50 anos, dono do bar Brasileirinho, em Ipanema, dependia da classificação do Brasil para começar a ter lucro. “Gastei R$ 2.800 só com telão e, até agora, estava empatando lucro e investimento. Começaria a faturar se o Brasil passasse para a semifinal. Foi quase tudo para o brejo”, queixou-se. “O movimento no jogo contra Gana foi excelente. Cheguei a ver pessoas combinando que voltariam para o jogo com a França”.

    Artigos foram 40% do volume vendido na Saara

    O presidente da associação de comerciantes da Saara, Ênio Bittencourt, diz que a expectativa dos lojistas era de um aumento de 30% no faturamento, com os jogos na Alemanha. A venda de artigos relacionados à Copa do Mundo representou 40% do volume comercializado em junho. “Se o Brasil fosse para a final, a expectativa era de retomada das vendas, graças à animação dos torcedores de última hora”, conta. Com a desclassificação, o faturamento deve cair 15%.

    No Rio, o tíquete-médio dos consumidores subiu de R$ 109,66, em abril, para R$ 129,42, em maio. Os setores que mais puxaram esse aumento foram o de Roupas e Roupas Esportivas. O setor de Eletrodomésticos saltou de R$ 688,63 para R$ 825,82 no período. As mulheres de 26 a 40 anos são as que mais compraram. Os empresários esperavam vender 81,6% dos produtos estocados, até o fim do campeonato.

    No Mercadão de Madureira, comerciantes também lamentam o fracasso da Seleção. A derrota afetou os quase 600 estabelecimentos no local. Diretora de Comunicação da Associação de Lojistas do Mercadão, Sheila Reis explica que as lojas comercializam não só artigos como camisas, bonés e outros produtos relacionados à Seleção, como também produtos para churrascos e festas, organizados pelos torcedores em dia de jogo. “Com certeza, as vendas serão bem menores”, comenta.

    Fonte: Jornal O Dia

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